segunda-feira, 25 de julho de 2016

O descobridor de tendências



Um simpático senhor de cabelos brancos circulava pelas ruas de Nova York em sua bicicleta, fotografando tudo aquilo que o impressionava. Poderia ser um enredo de um filme de Woody Allen, mas este senhor existiu e registrou a história da moda nos últimos 38 anos como ninguém.



Bill Cunninghan não era nem um paparazzo nem um fotógrafo de estilo comum. Também não era um simples retratista de street style. Ele foi o antropólogo visual da moda que publicava seus objetos de pesquisa semanalmente no New York Times.

O fotógrafo passava o dia pelas ruas da cidade, registrando tudo que lhe chamava atenção, em especial o estilo das pessoas. À noite, fazia a cobertura dos eventos sociais das altas esferas da sociedade nova-iorquina. Do underground à ostentação, Cunningham tinha livre acesso a todos os grupos e lugares. 



Se existiu um olho que soube captar a efervescência da moda de uma cidade, foi ele, que mostrou ao mundo todas as tendências através dos retratos de sua coluna. “Ele via coisas que nem eu nem minha equipe da Vogue percebemos”, afirma a editora Anna Wintour. “Se Bill fotografava uma tendência, você sabia que em seis meses estaria na moda no mundo todo”.



Faleceu em junho deste ano, aos 87 anos, trabalhando até seus últimos dias, com a câmera pendurada no pescoço e uma eterna jaqueta azul com bolsos, modelo que comprou em Paris e que era usada pelos garis da cidade. Segundo o fotógrafo, ela o uniforme mais prático, pois possuía muitos bolsos para guardar seus rolos de filme -  nunca fotografou com câmeras digitais.  



Comparecia religiosamente às semanas de moda mais importantes. Sua favorita era a de Paris, onde em 2008 ele foi condecorado com a Ordem das Artes e das Letras. Porém, sabia que era na rua onde encontrava matéria prima para seus retratos. “O melhor desfile de moda é a rua. A rua fala comigo. Eu não decido nada e para que isso aconteça, você precisa estar aí. Não me dizem se vão usar as saias nos joelhos. Eu vejo. Aqui não há atalhos. Você tem de ficar na rua para que a própria rua lhe diga.” 
Em 2010, virou personagem-tema de um documentário de Ricard Press, que retratou seu dia a dia pelas ruas da cidade e sua história, que é possível assistir aqui.